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“Minha querida Poppy”

1817, em Noble House

 

Poppy suspirou ao encarar o rostinho da filha adormecida. A bebê estava no mundo há apenas algumas horas e já era fonte de uma alegria intensa e indescritível. 

Sophia, era seu nome.

— Querida? Quer que eu a ponha no berço? — Jasper, o visconde e seu marido, perguntou docemente. 

Poppy estava emotiva após o parto, ainda muito cansada. E com saudades do próprio pai, Wallace. Ela fungou e negou com um aceno.

— Não ainda. Podemos ler a carta? 

Jasper compreendeu no mesmo instante. Uma hora antes, Georgia Alice passara em seu quarto e lhe deixara um presente inesperado naquele dia de alegria: uma carta do patriarca, escrita um pouco antes de sua morte. 

Uma despedida. 

— É claro que podemos. Quer que eu a leia para você? — Jasper alcançou o envelope na mesinha de cabeceira. 

Poppy assentiu. 

— Por favor. 

Era agridoce. Saber que ouviria as palavras do pai lhe enchia de ternura, mas ela estava segurando nos braços uma filha linda que ele jamais conheceria. 

E pensar que fora por tão pouco… 

— Posso começar, meu bem? — Jasper sentou-se no colchão macio, seus olhos azuis muito atentos à esposa. Ele era tão cuidadoso, tão amoroso. 

Poppy respirou fundo, contendo a vontade de chorar, e aninhou melhor o bebê. 

— Sim, por favor. 

Ela abriu o papel dobrado e silenciosamente passou os olhos pelo conteúdo. O canto de seus lábios se levantou, antes de começar: 

 

“Minha querida Poppy

Seu velho pai anda emotivo. Talvez seja a morte que se aproxima, ou talvez seja a felicidade que habita em meu coração desde que soube de sua terceira gravidez. 

Mais um bebê, minha filha. Mais uma alegria. 

Uma que deve estar em seus braços agora, mas que infelizmente não pude conhecer. 

Bem, a vida nem sempre funciona como queremos. 

Contudo, pensemos pelo lado bom. Esta criança, seja menino ou menina, nasceu num lar cheio de amor. Será criada por pais maravilhosos e, com sorte, terá algo parecido comigo para que possam se lembrar de mim. Um nariz, quem sabe? Ou os olhos? Ou talvez apenas minha adorável personalidade.”

Poppy riu e chorou. Foi impossível se conter. Ele sempre sugeria que pensassem pelo lado bom. 

Percebeu que Jasper também estava emocionado. Ele se conteve e prosseguiu. 

“De qualquer forma, estarei de olho em vocês. Sempre, me ouviu? 

Conte nossas histórias a seus filhos, Poppy. Conte como costumávamos sorrir quando sua mãe tagarelava, ou como gostávamos de fingir que apreciávamos as ervilhas na hora do jantar. Conte a eles que seu pai era um homem falho, mas que às vezes tinha um ou outro bom conselho a oferecer. 

Sorria com eles, esse seu sorriso tão lindo. 

Eu estou tão orgulhoso da família que construiu, querida. Cultivem, você e seu marido, essa paixão, esse amor. 

Sejam felizes!

E pense em mim, minha pequenina. Sempre que precisar, pense em mim e estarei bem ao seu lado. 

Com amor, 

Wallace.”

 

Jasper baixou o papel e encontrou o olhar dela. 

— Seu pai… — ele começou, com a voz trêmula. — Que homem terrível. 

Ela concordou, ainda com os olhos úmidos. O marido se sentou ao seu lado, passou um braço ao redor dela e suspirou. 

— Está bem? — ele quis saber. 

— Estou… Foi por isso que ele pediu que mamãe me entregasse a carta hoje. Ele sabia. — Com o coração transbordando de saudades, Poppy correu o olhar pela filha mais uma vez e sorriu. 

— É mesmo o nariz dele — comentou ela. 

Jasper sorriu também.

— Lorde Wallace cumpre mesmo suas promessas — ele beijou sua têmpora. 

Sim, ele cumpria. 

Poppy se enganara minutos antes, Wallace estava ali. 

Sempre estaria, era verdade. 

Bem ao seu lado.

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