Cena extra Cancelados: Halloween
- Stefany Nunes

- 17 de out.
- 4 min de leitura
Ps: Quero agradecer à querida Tábata, pois foi ela quem plantou a ideia dessa festa à fantasia na minha mente.
Tabatinha, essa é para você.
Ilustração: Jessica Oliveira
Londres, Outubro de 2025
Jasmine
— Então é assim que você se sente?
A voz de Dua Lipa soa alto no ambiente amplo e eu paro de cantarolar ao olhar para Handel. Estamos na festa de Halloween do escritório, sentados no fundo do espaço, pois meus pés estão cansados — o que é natural considerando que estou grávida de seis meses.
Apesar dos protestos de Handel em participarmos do evento, este ano seria o primeiro em que compareço como sócia, então resolvi dar uma passadinha de duas horas.
Meu marido (o mesmo que não queria estar aqui) teve a brilhante ideia de vir fantasiado de cacto.
Já eu, adivinhem? Estou usando uma fantasia de pavão, é claro. Viramos um casal brega, mesmo.
Amar é um caminho sem volta.
— Como me sinto? — pergunto, sem entender.
Ele me cutuca com um sorriso safado.
— Sim. É assim que se sente todas as vezes em que espeta alguém?
— Nossa, que engraçado. — Reviro os olhos. — Ha ha.
— Ah, eu mereço ao menos um sorrisinho, não mereço?
Ele tem uma flor de cacto no topo da cabeça e sua testa está levemente suada devido ao tecido pesado do traje. Sua mão envolve minha cintura e o tom de verde contrasta com o azul da minha roupa.
— Você não vai jogar seu charme em mim agora, Rupert. Sei que quer ir embora e precisamos ficar aqui mais uma hora, no mínimo.
A expressão sedutora se desfaz e ele deixa os ombros caírem.
— Essa festa tá um porre, Jas.
— Eu sei, amor, mas o que posso fazer? Vai dançar um pouco para se distrair.
— Sem você? Nem pensar. — Handel se senta ao meu lado e cruza os braços. — Que tédio. As coisas que eu não faço por minha mulher…
— Handel, precisamos ver o lado bom do evento. Por que não bebe champanhe?
— Passo.
— Que tal um doce? — Aponto para a mesa de guloseimas.
— Passo.
Minha nossa, que homem difícil. Ele costuma ser ranzinza em eventos formais, mas desta vez está se superando.
Olho para o lado e contemplo o perfil sério.
Caramba, Handel é mesmo um homem lindo. Ele está mais forte nos últimos meses, pois começou a treinar pesado na academia com o argumento de que terá uma filha para criar e precisa cuidar da saúde.
Ele faz o drama dele, sabem como é, mas não estou reclamando do peitoral largo e peludo.
— E que tal massagear meus pés um pouquinho? — sugiro, pois eu não ligaria de receber uma massagem enquanto estamos aqui sem fazer nada. — O pavão desta noite sou eu, mas é o seu bico que está imenso.
Handel suspira e dá um tapinha na coxa, para que eu estique minhas pernas e as apoie ali. Ele retira minhas sandálias com cuidado e as deixa no chão, massageando meus pés em seguida.
Fecho os olhos e solto um gemidinho de satisfação.
— Ai, que delícia.
— Você não deveria abusar, mulher… — Ele está concentrado na tarefa.
— Não estou abusando. É que trabalhei o dia inteiro hoje, tive reuniões sem parar e estou um pouco mais cansada do que o normal.
O que é verdade. Desde que me tornei sócia, o trabalho aumentou e tem dia que mal vejo o tempo passar.
Handel continua movimentando os dedos habilidosos e levanta o rosto para mim, me analisando.
— Você até que é um pavão bonitinho — ele me provoca.
Confesso que concordo. Gosto de azul e as perninhas artificiais na fantasia me deram um charme sem igual.
— Quando Gwen nascer, vamos comprar uma roupinha de pavão para ela. — Aliso minha barriga devagar.
— E uma de cacto! Desconfio que a princesa vai puxar o temperamento da mãe.
Quero perguntar como ele pode ter tanta certeza, mas tomara que Handel esteja certo.
Acho mais fácil lidar com duas de mim do que com dois dele.
Oh, céus.
— Faz um pouco de pressão no calcanhar — peço, franzindo o nariz.
Handel obedece e sugere:
— Tenho uma proposta, doutora.
— Diga.
— Ficamos mais dez minutos e então saímos sem nos despedir de ninguém. Chegando em casa, eu preparo uma banheira para você, com sais de banho e tudo que tiver direito.
Hum, é uma proposta interessante, especialmente agora que estou sentindo o cansaço do dia nos ombros e na lombar.
— Fale mais sobre isso.
— Você toma seu banho relaxante e eu cozinho um jantar pra gente. E depois, deixo você escolher.
— Escolher o quê?
Ele arqueia uma sobrancelha e o sorriso de lado aparece outra vez.
— Gostosuras ou travessuras, Jasmine?
Meus lábios se curvam sem controle e eu sei que acabo de perder o jogo.
— Ok, cacto do dia. Você venceu.
E quando os olhos dele brilham e meu coração salta dentro do peito, não preciso responder à pergunta.
Travessuras serão.




