New South Wales, Austrália
Ano Novo de 1843
Sob o céu estrelado, Basil Whitford serviu um pouco de champanhe e entregou a taça à sua esposa. Estavam sentados sob uma toalha na areia da praia, como faziam em todas as viradas de ano desde que haviam se casado. Naquele ano, contudo, eles estavam sozinhos.
O tempo passara e as crianças haviam crescido e os deixado. A última se casara no Natal, os pais de Mary já eram falecidos, então só restavam os dois.
— A você e a mais um ano ao seu lado. — Basil propôs um brinde.
Mary estava mais linda do que nunca, e sorriu quando a própria taça tilintou na dele.
— Casamos nossa pequena… e agora, Nicholas será um marido.
Basil bebeu o líquido borbulhante e riu. Quem diria que seu filho, aquele cretino júnior, acabaria indo para Londres e se apaixonando por ninguém menos do que Victoria Maxwell?
— Eu gostaria de ver a cara de Maxwell… — Basil comentou. — Céus… o homem deve ter praguejado por duas semanas.
— Que exagero… — Mary negou com um gesto de cabeça.
— A senhora não o conhece como eu. Pobre Amelia, aguentar aquele mau-humor.
— Acha que Nick está sendo bem-tratado? — Mary quis saber.
Basil deu de ombros.
— Provavelmente. A carta, ao menos, me pareceu positiva.
Mary assentiu e suspirou, de um jeito que Basil conhecia muito bem.
— O que está se passando nessa cabecinha, meu amor?
Ela pressionou os lábios um no outro, tomando um gole de sua champanhe.
— Estive pensando na vida.
— Certo…
— E se… pudermos, enfim, nos aventurar?
As sobrancelhas de Basil se franziram.
— A que se refere?
— A vida passou e as coisas mudaram. As crianças estão casadas, Nicholas viverá em Londres, meus pais já descansam, assim como Gabe. E se… tentarmos algo novo? Uma vida diferente, na Inglaterra?
Ele não poderia estar mais surpreso.
Basil sabia que Mary sempre teve um desejo de conhecer a terra natal de seus pais, mas com a distância dos dois países e as condições da viagem de navio, tudo era um tanto complicado.
— Está querendo se mudar?
— Estamos praticamente sozinhos aqui. Selena vive na Nova Zelândia, Caroline pretende ir para a Europa no próximo ano.
— Ainda temos Gabriela — Basil a lembrou.
— Sim, eu sei. Mas foi ela mesma que me sugeriu essa ideia. — Mary deixou a taça de lado e pegou na mão dele. — Ela disse que, talvez, seja hora de finalmente voarmos. Que poderá nos visitar caso decidamos envelhecer ali. As condições da viagem melhoraram, levarei as muletas e minha cadeira. Você ainda tem uma casa na cidade.
— Ela está em ordem, segundo as correspondências — Basil disse.
— Exatamente. Não precisa ser algo permanente, talvez, possamos passar alguns anos em Londres. Participaremos do casamento de Nicholas, poderei conhecer os Maxwells.
— Será um jantar no mínimo interessante — Basil apenas podia imaginar.
Mary concordou.
— Antes de nos casarmos, eu jamais pensaria em viver longe daqui, mas ao seu lado… podemos fazer qualquer coisa, não podemos?
Sim, eles podiam. Basil envolveu a nuca da esposa e a puxou para um beijo apaixonado, sentindo o coração disparar. Ah, aquela mulher e o poder que ela tinha sobre ele, desde o primeiro instante em que a vira.
— Eu gosto do que me propõe, Mary. Posso continuar trabalhando em outro departamento, tenho pessoas o bastante para me substituir aqui. Preciso dizer, contudo, que a vida em Londres é bem diferente.
— Eu sei, e estou pronta para todas essas diferenças — ela afirmou, confiante.
Era tudo que ele precisava saber.
— Cuidarei de tudo para que fique confortável durante a viagem. Há um navio partindo no fim de janeiro, pelo que me lembro — Basil garantiu. — Oh, céus. Nick vai ficar tão feliz.
— Ele sempre apoiou a ideia de eu viajar, um dia. Vamos escrever a ele assim que chegarmos em casa!
— Essa é nova resolução para o próximo ano? — Basil ergueu uma sobrancelha. — Vamos para Londres casar nosso menino?
Mary sorriu tão abertamente que a praia ficou mais clara.
— Vamos!
Basil voltou a beijá-la, e somente parou quando os fogos começaram a brilhar do outro lado da baía. Com o corpo colado no da esposa, ele observou a virada do ano e o espetáculo colorido e cintilante que iluminava o céu escuro como uma chuva mágica.
— Feliz ano novo, meu amor. — Mary encontrou o olhar dele.
— Feliz ano novo, coisa linda — foi a resposta.
E, se fosse possível, ele diria que naquele momento se apaixonou por ela mais uma vez.
Comentário da autora: Feliz ano novo, lindezas!
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